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Casa dos Livros


Porta única, entrada simples, corredor apertado. Do lado de fora, uma placa anuncia: “a casa dos livros usados”. Volumes de todos os tipos, autores e categorias compõem um dos sebos mais tradicionais de Fortaleza. Porém, encontrá-lo em meio ao vai e vem dos pedestres e o alarido de vozes do centro da cidade não é uma experiência tão fácil. Confesso que, quando pela primeira vez procurei o local, passei por ele diversas vezes sem jamais conseguir encontrá-lo. Reconheço que minha falta de atenção costuma me pregar várias peças, mas felizmente a ajuda de uma senhora me ajudou a visualizar o óbvio.


No número 950 da rua 24 de maio, o sebo resiste há 18 anos, tendo já ocupado outros espaços da cidade. Seu Geraldo, livreiro-mor e nosso anfitrião, não tem mais ideia de quantos livros vendeu nos seus últimos 52 anos de trajetória. Atualmente desconfia, no entanto, que seu acervo esteja na casa dos cento e vinte mil. Stella, gerente do local, é quem conhece de perto os livros que entram e saem da casa. Se um novo cliente chega procurando por uma obra específica, de seu balcão seu Geraldo solta o brado: “Steeeeella, ajuda aqui!” E ela prontamente surge em meio às estantes para nos dar as coordenadas.


Subindo a rua Pedro I no mesmo sentido do fluxo, hoje já sei localizar bem o Sebo O Geraldo. Outro dia fiz mais uma visita despretensiosa ao local, desta vez na companhia de uma amiga. Fiquei animada em apresentá-la a este charmoso antiquário. Além das “montanhas” de livros, no local não há relógios nem qualquer tipo de marcador temporal. Penso que isto seja um sutil convite aos visitantes: desfrutar de uma boa visita sem preocupar-se com os minutos. Em tempos de tecnologia, os sebos recordam não só nossa tradição literária, mas são capazes de despertar em nós uma prática esquecida – garimpar boas histórias.


Fazia o ensino médio quando fui ao Sebo O Geraldo pela primeira vez. Desde então ele tem sido um dos meus locais prediletos da cidade. Óbvio, porque lá é possível adquirir títulos por preços mais acessíveis, mas também porque cada nova visita me permite descobrir algo novo por ali. Entre as estantes abarrotadas de livros de literatura, economia e psicologia, é possível encontrar também diversas marcas sutis dos seus antigos donos. Datas, dedicatórias, assinaturas, anotações nas margens da página… Livros também são guardiões da memória.


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