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Diferentes rotas de um mesmo destino

  • Mariana Lemos, Vitória Rodrigues, Jackson Samuel
  • 11 de jul. de 2018
  • 4 min de leitura

A vida de um estudante universitário é cercada de desafios, e a distância que o separa da Universidade pode ser um deles. Na Universidade Federal do Ceará (UFC), boa parte dos discentes tem origem no interior do estado ou em outras regiões, o que decorre, principalmente, da oportunidade que o Enem oferece aos vestibulandos de concorrer a vagas nos principais centros de ensino do país, independentemente da distância. Assim, caso o estudante opte pela graduação em campi localizados em outras cidades, surge a demanda de se mudar para o local escolhido, ou, em casos mais raros, realizar viagens diárias.

(Prédio da Residência Universitária)

Buscando prestar assistência a esses discentes, a Pró Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) da UFC oferta auxílios moradia, bolsas emergenciais e ingresso à Residência Universitária. Tais benefícios são oferecidos através de editais, lançados semestralmente no site da Universidade, nos quais os alunos passam por processos seletivos, que variam de acordo com o auxílio solicitado. O principal critério avaliado é a situação econômica, visto que o programa busca contemplar estudantes em vulnerabilidade social.


(Prédio Prédio da PRAE. Foto: Jackson Samuel)


Atualmente, a UFC conta com 11 residências, localizadas próximas aos campi Benfica e Pici. Ao todo, são 436 vagas ofertadas, 178 delas femininas, 256 masculinas e 2 para deficientes. Todos os residentes têm acesso gratuito ao Restaurante Universitário, sendo 3 refeições diárias - café da manhã, almoço e jantar-. Entre outros benefícios, a universidade oferece acompanhamento psicopedagógico para os interessados, que devem se inscrever pelo e-mail psicopedagogico@ufc.com.br. O último edital lançado pela PRAE para o ingresso nas residências universitárias obteve 266 inscritos, concedendo apenas 50 vagas. O tempo médio de espera para o aluno conseguir uma vaga são 2 semestres.


(Residência 125, campus Benfica. Fotos: Jackson Samuel)

Inserido nesse contexto, Daniel Macedo, 23 anos, natural de Iguatu (CE). Mudou-se para Fortaleza em 2012, a fim de cursar Jornalismo na UFC. Ele, aos 17 anos, enfrentou a missão de morar sozinho em uma cidade até então desconhecida, longe dos pais e com dificuldades financeiras. Após passar os seis primeiros meses morando com amigos em um apartamento alugado, custeando suas despesas com uma bolsa universitária e o salário que recebia trabalhando de garçom, Daniel ingressou na residência universitária em julho de 2012, onde ficou até o final do primeiro semestre de 2017, ano em que se graduou. Filho de uma agricultora e um caminhoneiro, foi o primeiro a ingressar no ensino superior em sua família, o que gerou certa desaprovação por parte de seus pais, que temiam pela sua segurança, alegando que o fato de o filho ser homossexual era um fator de risco. Em 5 anos como residente, Daniel relata que sua moradia foi invadida e furtada duas vezes, o que atesta que a segurança das residências não é efetiva, causando mais vulnerabilidade para os moradores que já enfrentam dificuldades socioeconômicas. Além disso, ele relata que a incerteza causada pela rotina universitária e pela precarização de seu curso comprometeram sua saúde mental, e que, devido ao serviço oferecido pela UFC se limitar ao âmbito pedagógico, teve que procurar acompanhamento psicológico por conta própria.


(Daniel Macêdo, mestrando em Comunicação Social pela UFC. Foto: Jackson Samuel)

Acerca do impacto em sua formação pessoal, Daniel destaca que a experiência no programa de residência foi fundamental para seu engajamento social, visto que o cotidiano repleto de dificuldades o ajudou a aflorar um forte sentimento de empatia e uma vontade de reivindicar pela sua própria situação e pelos estudantes que viriam. Sua luta se deu, principalmente, em prol de melhorias para as minorias desfavorecidas, que, com a introdução do sistema de cotas, passaram a ingressar na universidade com maior frequência. Atualmente, Daniel é mestrando em Comunicação Social pela UFC e continua a lutar por avanços sociais, agora no setor da pós-graduação.“Nós queremos entrar, queremos permanecer e não queremos que isso aconteça de qualquer jeito.”, declara Daniel, acerca do acesso à universidade pelas minorias.


Em situação semelhante, a aluna Dominick Maia, 18 anos, natural de Limoeiro do Norte - cidade distante de 200km da capital cearense - também teve que se mudar para Fortaleza para estudar na UFC. Cursando o terceiro semestre de jornalismo, ela mora sozinha em um apartamento custeado pela própria família. “Eu sempre quis vir para UFC, eu passei na lista de espera então tive uma semana pra me mudar. Com o primeiro apartamento que achei, eu vim.” Ela afirma que não procurou o programa de residência pois não se sentiria a vontade morando com outras pessoas, o que a levou a optar por um imóvel particular, onde pode receber seus pais quando vem visitá-la. A universitária relata que sempre teve o apoio dos pais, apesar da preocupação constante pelo fato de morar sozinha em uma cidade perigosa. De acordo com ela, sua maior dificuldade foi a adaptação à nova rotina em Fortaleza, principalmente com a necessidade de andar de ônibus e sozinha. “Eu acho muito triste aqui, não tenho parentes. Chega a ser até depressivo, eu não vivo a cidade. Por medo mesmo. Saio somente de casa para faculdade.” Em relação a sua vida no âmbito profissional, Dominick percebe que essa mudança brusca a permite ter um olhar diferenciado sobre a Capital por não ser natural dela.. Apesar de todas as dificuldades, a graduanda afirma que valerá a pena o esforço para seguir seu sonho.


Em situação diversa, Lara Lanna, 17, também é estudante de Jornalismo da UFC. A estudante reside em Cascavel, cerca de 60km de Fortaleza, e optou por não se mudar para a capital. De segunda à sexta, ela vai e volta em um ônibus contratado pela associação de universitários de sua cidade, já que a prefeitura não disponibiliza transporte para os estudantes da região. O custo mensal por aluno é de R$ 140,00, o que torna ainda mais difícil o permanecimento na universidade. Cursando o 1° semestre de Jornalismo, no qual suas aulas geralmente são à tarde, Lara sai de Cascavel 11h30 rumo à UFC, chegando por volta das 13h. Caso haja alguma atividade pela manhã, o horário de saída do ônibus é 5h30, chegando na universidade às 7h. Para Lara a possibilidade de morar em Fortaleza seria de extrema importância , no entanto a fila de espera para conseguir uma vaga nas residências universitárias ou auxílio moradia são processos bastante demorados. Mesmo assim, a discente não descarta a hipótese de se mudar para a Capital.




 
 
 

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