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Os frutos da sobrecarga na infância

  • Igor Magalhães
  • 3 de jul. de 2018
  • 2 min de leitura

De acordo com a meritocracia, como o nome sugere, as pessoas devem alcançar as melhores condições profissionais e sociais de acordo com seus méritos individuais, ou seja, pelo esforço em atingir determinado objetivo. Esse modelo dita muito do modo como se dão as relações sociais nos mais diversos aspectos, entre eles, a educação das crianças.

Os pais sempre querem o melhor para os filhos e isso inclui um “futuro de sucesso”, principalmente profissional. As escolas, sejam públicas ou particulares, têm a necessidade de demonstrar resultados do seu trabalho com os alunos, exibindo aprovações em provas muito concorridas, por exemplo. Evidentemente, tudo isso impacta os mais jovens, na medida em que são cobrados para darem sempre o seu melhor, independentemente da circunstância.

As crianças são obrigadas desde cedo a assumir diversas responsabilidades. Elas precisam absorver uma série de informações sobre o mundo, tirar notas boas, aprender uma língua estrangeira, praticar esporte ou desenvolver algum talento artístico. A depender da condição social, algumas também precisam ajudar nas tarefas domésticas e, às vezes, até ter algum trabalho informal. Assim, muitas não têm tempo para se divertir ou descansar, e não aproveitam a infância como supostamente deveriam.

A pergunta é: isso é bom ou ruim? Essa rotina ajuda as crianças a se prepararem para a difícil e atribulada vida adulta? Ou apenas antecede etapas e situações para as quais ainda não estão preparadas?

A resposta é complexa. Segundo o neuropediatra Saul Cypel, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), em um período de dez anos, as queixas sobre comportamento infantil subiram de 20% para 85% do total de pacientes de seu consultório. Ansiedade, depressão, estresse, déficit de atenção, irritabilidade e falta de ânimo são constatados com frequência nos atendimentos clínicos.

A psicóloga espanhola Jennifer Delgado Suárez elencou quatro aspectos da educação moderna que interferem negativamente na verdadeira experiência de ser criança: excesso de coisas, de opções, de informações de velocidade. Segundo ela, esses tópicos estão relacionados a alguns vícios dos adultos que são transmitidos aos pequenos: o consumismo, o tempo como sinônimo de dinheiro e produtividade, a busca incessante por ocupar o ócio e o uso do tempo livre da criança para demandas de desempenho.

Para o professor de economia Steven Levitt, da Universidade de Chicago, além de não assegurar benefícios futuros, o excesso de atividades na infância pode formar pessoas mais infelizes e menos produtivas. Ou seja, todos os prejuízos no amadurecimento emocional dos menores vai refletir nos adultos que se tornarão. Não necessariamente crianças muito cobradas e atarefadas serão adultos mais preparados para encarar a vida, como quer ditar o senso comum.

Ainda que os mais jovens representem o futuro, não se deve exigir demais deles a tal ponto que se sintam sobrecarregados ou percam o interesse pelas tarefas que lhes são passadas. O resultado do excesso, muitas vezes, é o contrário de sucesso. Que o importante da vida seja aproveitar cada uma de suas fases devidamente, inclusive a infância, com direito a acertos e erros.

 
 
 

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