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A dificuldade na resistência de ser uma mãe universitária


A combinação de xerox e trabalhos com fraldas e mamadeiras parece ser incomum. Contudo, é uma realidade na vida de mães universitárias que se desdobram para conciliar os estudos com a maternidade.


De acordo com uma pesquisa realizada pelo IBGE em 2015, das mulheres de 20 a 29 anos, idade produtiva em que algumas estão frequentando alguma universidade, 49,6% eram mães. Segundo dados da Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), a maternidade é responsável por 68% dos trancamentos de matrículas femininas. Os dados revelam tamanha a dificuldade em conciliar as duas atividades.


A estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC) e mãe de Bryan, 3 anos, Jessyka Sales, relata um pouco de sua dupla jornada, com a qual lida desde o segundo ano do Ensino Médio. “Você passar o dia estudando e chegar em casa, ainda ter uma criança pra você cuidar, alimentar, arrumar, banhar, tudo, né (...) Às vezes você tá tão cansada, tão cansada, que você pensa em jogar tudo pro alto”, desabafa. A estudante conta ainda sobre a dificuldade de conciliar as duas atividades, relatando que há momentos que fica realmente complicado acompanhar as atividades do curso devido às tarefas de casa. “Tem as atividades da faculdade, chegar em casa e ainda ter uma vida para você cuidar, administrar, tudo, porque ele tem três anos. É bem cansativo, bem cansativo mesmo”. A estudante ratifica: “às vezes o emocional fica abalado”.

Jessyka e o filho Bryan. (Foto: Arquivo pessoal)

A psicóloga Ruth Arielle explica que certos desgastes podem gerar alguns transtornos, mas que não se pode generalizar. “Pode ser que você tenha uma pessoa que não vá encarar essa jornada como algo adoecedor, mas como algo que ela queira, que ela deseja muito, ou que ela estava esperando muito para que acontecesse, enfim. A gente não teria como saber de antemão ou que efeitos poderia ter, muitas vezes nem a própria pessoa sabe”, afirma.


“Só eu sei como foi difícil entrar lá, então essa nunca foi uma opção para mim”, relata Jessyka, que foi uma das poucas de sua turma na época a conseguir vaga na UFC. Além do cansaço da rotina, a estudante descreve a dificuldade de achar alguém de confiança que fique com seu filho, visto que ele estuda de manhã e ela no período da tarde/noite. “A maior dificuldade é de estar lá na faculdade, mas com o pensamento em casa porque eu não sei se ele tá bem. Quando ele tá lá (com a avó paterna) ou com minha mãe, ok, mas tem vezes que nenhuma das duas podem ficar com ele. Aí houveram casos que tive que levar ele para a faculdade ou até mesmo faltar porque não tinha quem olhasse”, conta.


Apesar de todas as dificuldades, Jessyka nunca pensou em abrir mão de cuidar de seu filho em prol da vida acadêmica. “Desde que eu tava grávida, a própria vó dele (filho da estudante) queria criá-lo mas eu nunca deixei. Eu sempre tive isso na minha cabeça: ‘Eu não engravidei? Agora eu vou criar!’ Mesmo que seja muito difícil”. A estudante conta que já recebeu propostas de emprego que exigiam que ela abrisse mão da faculdade. Apesar da necessidade, ela rejeitou, pois mantém o filho e a vida acadêmica como prioridades.

Auxílio da universidade

Visando amparar as mães universitárias, a UFC disponibiliza o Auxílio-Creche. O programa, disponibilizado pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), trata-se de uma espécie de bolsa fornecida para ajudar as mães estudantes na criação de seus filhos em termos econômicos, além de facilitar sua presença na universidade.


Contudo, o auxílio-creche tem um tempo limite de duração, no caso, até a criança completar 4 anos. Uma alternativa é a Unidade Universitária Federal de Educação Infantil Núcleo de Desenvolvimento da Criança (UUNDC). Um dos seus objetivos é oferecer programa educacional para crianças de três a cinco anos de idade. Segundo o UUNDC, atualmente o núcleo assiste 54 crianças pertencentes aos diferentes públicos da UFC (servidores, professores, estudantes, técnicos e funcionários de nível de apoio) e crianças da comunidade; dessas 54 crianças, 13 são filhos de estudantes, de graduação e pós-graduação.


Entretanto, a psicóloga Ruth ressalta que embora esses meios pretendam ajudar as mães universitárias, eles estabelecem uma espécie de vínculo obrigatório entre mãe e universidade. “Esses dispositivos têm como objetivo ajudar essas mães, mas eles também as mantém como universitária, como se não houvesse outra opção além disso”.

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