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O que Marielle Franco e Martins Luther King dizem sobre a luta antirracista?

  • Dominick Maia e Eduarda Porfírio
  • 10 de abr. de 2018
  • 3 min de leitura

Há 50 anos, em 4 de abril de 1968, Martin Luther King Jr., o maior símbolo da luta pacífica pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, foi assassinado com um disparo em um hotel na cidade de Memphis, no Tennessee. O país sofreu uma grande crise. Na mesma década em que os norte-americanos levariam o primeiro homem à Lua, revelando todo o seu esplendor tecnológico ao mundo, também refletiam uma primitiva realidade racista.


No Brasil, há menos de um mês, especificamente no dia 14 de março de 2018, morria a vereadora Marielle Franco. Negra, feminista, socióloga e ativista pelos Direitos Humanos, Marielle foi assassinada a tiros, com indícios de execução, dentro de um carro na Rua Joaquim Palhares, na Região Central do Rio. Dois dias depois a investigação descobriu que a munição usada no crime era a mesma presente em lotes vendidos para a Polícia Federal em 2006.


Esses dois ativistas têm muito em comum: ambos morreram antes dos 40 anos, ambos lutavam contra o racismo e ambos pagaram com a vida por defender ideias de igualdade racial. Da mesma forma, os tiros que mataram Martin Luther King e Marielle Franco representam um só, e esse ainda ecoa pela ordem social.


Uma citação famosa de King diz que o que preocupa “não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”. O pastor, que não calou em nenhum momento ao se manifestar pela causa negra, de fato desagradou todo um movimento de luta pelos direitos civis, o governo e boa parte da estrutura política norte-americana. Tal qual Marielle que, ao denunciar violações de direitos nas favelas e comunidades do Rio de Janeiro, não agradava o sistema e suas autoridades. Contudo, nenhuma dessas mortes foi em vão.

Com as duas maiores populações mundiais de descendentes africanos fora da África – Brasil com quase 56 milhões e Estados Unidos com 46 milhões –, os dois países vivem uma crise de violência policial pois, seja na Rocinha ou nos distritos de Baltimore, pouco importa para a polícia ou para os políticos se vidas negras são perdidas.


Apesar de existirem conquistas são em momentos de tensão, vivenciados hoje por ambas as nações, que surgem cenários propícios para que grupos racistas e extremistas saiam de seus esconderijos e assumam atitudes mais destrutivas. Da mesma forma, tanto no Brasil como nos Estados Unidos, o racismo é institucionalizado.


Para combatê-los, surgem os movimentos sociais que, inspirados pelos ideais de personalidades como King e Marielle, lutam por um mundo mais justo. Ao passo em que o ''Black Lives Matter'', movimento estadunidense que luta contra a brutalidade policial e as condições econômicas, sociais e políticas que oprimem os negros, atinge um nível global, o Brasil também engrossa as fileiras do movimento de luta pelos direitos dos negros. É o que vemos nas últimas semanas, onde milhões de brasileiros, de todos os 26 estados e Distrito Federal, saíram nas ruas para protestar pela vereadora e pelo o que ela representa.


A socióloga e pesquisadora com foco no racismo, Geísa Mattos, aponta que apesar dos avanços do movimento negro é possível perceber explicitamente um grande crescimento de movimentos fascistas e racistas nas redes sociais. No entanto, em paralelo, há também um crescimento do orgulho negro.



Mattos atribui esse processo ao autorreconhecimento de pessoas negras enquanto tal, como consequência do orgulho negro, algo que não ocorria alguns anos atrás com pessoas ditas “morenas claras” ou “pardas”. E esse reconhecimento, representado cada vez mais através de artistas, cabelos e até mesmo por blogueiras e blogueiros na internet, tem sido crucial para dar força ao movimento.

Quando comparado ao movimento negro norte-americano, percebe-se que o brasileiro ocorreu de forma mais tardia devido a intensa miscigenação que gera uma dificuldade de certa parte da população se identificar enquanto negra. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que atualmente 54% da população é negra e, segundo Geísa, isso é muito interessante porque mais pessoas passaram a se identificar como negras. O que não significa que não houve mobilização anteriormente “pois enquanto que nos EUA o movimento negro se desenvolveu através da política, no Brasil se desenvolveu através da cultura” e, no atual cenário, o cultural se uniu ao político.


Diante desse contexto, ver cartazes com a foto de Marielle Franco e a frase “Black Lives Matter” é como se todos nos uníssemos em uma Wakanda ideológica, com diferentes tribos lutando pelo mesmo objetivo de sustentar e avançar com um grande legado. Não se pode negar que muito já foi conquistado, mas ainda há demasiado pelo o que lutar.


 
 
 

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