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FoMO: o medo de ficar de fora e suas consequências


Uma das características marcantes da geração millennial - jovens nascidos entre 1980 e 1990 - é o uso constante das redes sociais. O crescente número de novidades nessas plataformas digitais acaba influenciando o comportamento dessas pessoas. A frequente busca por atualização pode ocasionar a FoMO, sigla em inglês para “Fear of Missing Out”, isto é, “o medo de ficar de fora”. É o caso de muitos jovens, como Isabelle Guedes, fotógrafa e filmmaker, que passa entre 8 e 9h do seu dia administrando dois perfis no Instagram - um pessoal e um profissional. “É muito mais tempo do que eu me orgulharia em dizer que passo”, afirma.

De acordo com o psicólogo clínico Aely Viana, “um dos principais sintomas desse fenômeno comportamental é o frequente acesso às redes sociais visando a constante atualização acerca dos mais diversos assuntos”. Alguns outros sintomas observados em pessoas com FoMO são: a facilidade de se “desligar” do mundo real, ansiedade por conta da expectativa por novidades, estresse pela demora de carregar sites ou queda da bateria e tédio por ficar sem as informações esperadas. Observa-se que há uma linha tênue entre a classificação da FoMO como um fenômeno comportamental inofensivo ou como um possível transtorno mental. Para o especialista, “a partir do momento que este comportamento passa a limitar a vida do indivíduo, isso pode contribuir para algum transtorno mental, como depressão ou síndrome do pânico”.

Isabelle Guedes tem 22 anos e é fotógrafa. O perfil no Instagram serve como um portfólio. (Foto: Reprodução)

O perfil no Instagram serve como um portfólio para Isabelle. (Foto: Reprodução)

Entre os sintomas que caracterizam o FoMo há a enorme “preocupação” com o que é postado nas redes sociais, o que pode promover um possível afastamento do ambiente real e uma ligação ilimitada com o universo digital. Isabelle, que já administrou dois outros perfis no Instagram, relatou um processo bastante minucioso de criação. "Quando começo essa coisa do Instagram novo, eu fico meio louca da cabeça e coloco todo o meu tempo só naquele perfil, pois fico observando as fotos mais de uma vez, edito e reedito", conta a fotógrafa.

O professor e especialista em mídias digitais Riverson Rios considera que as mídias sociais hoje em dia pautam muito da discussão na esfera pública. “A facilidade de postar, curtir e compartilhar, o baixo custo de acesso e muitas vezes a possibilidade de anonimato as têm tornado um novo canal de expressão e criação de conteúdo”, diz. Essa dinâmica expansiva também pode ter outro lado. Para Isabelle, as redes sociais são tanto maléficas quanto benéficas. “O tempo ocioso ao utilizar o Instagram é enorme, isto é, eu poderia estar produzindo outras coisas; e, embora eu consiga bloquear bem, inconscientemente, a gente fica se comparando a outras pessoas”. Na opinião da fotógrafa, o lado bom das redes sociais consiste na possibilidade de inspirar outras pessoas, divulgar seu trabalho e conhecer pessoas que a influenciam tanto no âmbito pessoal, como profissional.

A negação da vida real também pode ser um sintoma da síndrome comportamental. Segundo Aely, é possível elencar um perfil predisponente à patologia. “Indivíduos com problemas de autoestima, pessoas com histórico de ansiedade, pessoas com características competitivas, indivíduos voyeur ou exibicionistas.” O psicólogo afirma ainda que a curiosidade e busca constante por atualizações e novidades é intrínseca ao ser humano, sendo esse padrão ainda mais evidente na atualidade. “Com o advento das redes sociais, esta característica passou a ser superestimulada. Este problema afeta tanto os adolescentes quanto os adultos jovens, principalmente por conta do imediatismo que caracteriza essa parcela da população.”

É possível que o excesso de uso das redes sociais prejudique as relações interpessoais? Para Riverson, há a existência de duas vertentes. “O uso desmedido pode, por vezes, abstrair o indivíduo de um convívio presencial com familiares e amigos, como também pode mantê-lo limitado a um pequeno grupo de pessoas e/ou ideias. A possibilidade de alienação, dependência e radicalismo é altíssima”, enfatiza o professor.

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