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“2001: uma Odisseia no Espaço”: 50 anos de uma revolução


A Produção de um Universo

Em 1968, Stanley Kubrick já possuía grande respaldo no universo cinematográfico. Obras como “Spartacus”, “Lolita” e “Dr. Fantástico” foram sucesso de público e de crítica, mostrando a capacidade do diretor em pular de gênero em gênero sem perder qualidade. Com “2001: uma Odisseia no Espaço”, explorava um gênero ainda não feito por ele: a ficção científica.

Em parceria com Arthur C. Clarke, renomado escritor de sci-fi, Kubrick escreveu o roteiro do longa junto ao romance homônimo. Os dois combinaram de finalizar o livro primeiro para depois focar na produção do texto do filme, uma vez que Clarke precisava de liberdade de imaginação. Na reta final, o processo de criação de ambos os produtos foi concomitante, com o filme estreando em abril de 1968, e o livro lançado em julho do mesmo ano.

Mesmo com o pouco conhecimento, na época, acerca do espaço e, ainda mais, de alienígenas na época, Clarke e Kubrick queriam criar um universo crível, porém nunca antes imaginado em ficções. Imaginação e sabedoria científica deveriam andar lado a lado, junto de efeitos práticos e especiais que marcassem o espectador. Para outro escritor de ficção científica, Brian Aldiss, autor de “Superbrinquedos duram o verão todo”, adaptado para as telonas como “A.I. - Inteligência Artificial”, 2001 foi o primeiro filme de sci-fi a não enxergar o futuro como previsível.

O Despertar da Humanidade Vamos embarcar na história.

Com um primeiro ato sem diálogos, “2001” apresenta a vida de nossos ancestrais, os macacos, em seu estado mais natural, há 4 milhões de anos. Após uma disputa entre dois grupos por território, a paz é interrompida pela chegada do objeto mais enigmático do filme: o monolito. O “intruso” desperta a curiosidade dos animais., que Kubrick, com um enquadramento inesquecível, retrata o monolito em conjunção com o sol, como um Deus para os primatas.

A presença do monolito durante o longa é como um divisor de águas para o trajeto humano. A partir de ossos de outros animais, os macacos aprendem a usar os instrumentos a seu dispor para gerar mais disputas e, dessa forma, “evoluir” como ser ciente, fundamentando o desenvolvimento do ser humano através do conflito. Ao som de “Assim Falou Zaratrusta”, de Richard Strauss, Kubrick mostra esse processo através do match cut (corte transitório entre planos que se correspondem) com salto temporal mais longo da história do cinema, já partindo para a história principal, no espaço.

A Orquestra Espacial

Continuando com a memorável trilha sonora, dessa vez de outro Strauss (Johann), somos apresentados à uma estação espacial, milhões de anos depois. Seus tripulantes são informados que um misterioso objeto, “deliberadamente enterrado” na lua, está emitindo sinais, e deve ser investigado. Ao se depararem com o desconhecido novamente, os humanos, de modo semelhante aos seus ancestrais, apreciam, com medo e admiração, o monolito. A trilha de Gyorgy Ligeti, simples mas tensa, ajuda na construção do suspense inesgotável do longa.

Mais uma vez, somos transportados para o futuro, 18 meses depois. A caminho de Júpiter, a nave Discovery One leva os astronautas Dave Bowman, Frank Poole e o computador de bordo HAL 9000, um dos antagonistas de inteligência artificial mais conhecidos do cinema. Desafiando seus criadores, HAL perpassa a síntese pós-humanista da obra, com os humanos enfrentando a própria modernidade para assim “evoluir”.

O Legado Homérico no Audiovisual

Considerado um filme difícil de engolir, “2001” recebeu críticas mistas em seu lançamento, mas ao longo dos anos foi reconhecido como um marco da ficção por sua ousadia e pela execução visual revolucionária para a época. Seu livro explica tanto quanto abre para mais indagações, com um final tão vago quanto o do longa.

O cineasta Steven Spielberg nunca esqueceu seu primeiro contato com “2001”. “Lembro de ir ao cinema e sentir que não era um filme, mas a primeira mudança na forma de fazer filmes”.

Para o professor de Cinema da Universidade Federal do Ceará (UFC), Marcelo Dídimo, “decantar” essa obra não passa somente pelo seu caráter cinematográfico."Os poucos diálogos e planos longos e contemplativos podem cansar a vista e até desviar a atenção do espectador, por isso é uma obra que necessita de uma certa paciência e de um pouco de atenção. Mais do que exigir um bom entendimento, o que o filme faz com excelência é provocar uma ótima reflexão, sobre filosofia, existencialismo, a condição humana no universo. Esse, sim, é um processo em constante ‘decantação’”.

Vencedor do prêmio de Melhores Efeitos Especiais, foi o primeiro e único filme de Kubrick a receber um Oscar. 50 anos se passaram, e “2001: uma Odisseia no Espaço” não é lembrado pelos prêmios, mas sim por sua importância na história do cinema, e por seus lendários criadores.


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