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Segurança Pública: como continuar vivendo a cidade


Com problemas visíveis na segurança pública do Brasil, os moradores vêm enfrentando transtornos diários devido a violência cotidiana dos últimos meses. O Ceará, recebeu destaque após passar por duas chacinas na sua capital e outras duas no interior, chegando a somar 35 pessoas falecidas. Entre esses atos de extrema violência, encontra-se a maior chacina já ocorrida na história do estado, a chacina de Cajazeiras, bairro da periferia de Fortaleza. O último evento dessa natureza, aconteceu na sexta-feira do dia 9 de março no bairro Benfica, onde 7 pessoas morreram.

De acordo com a socióloga e pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), Suiany Moraes, quando esses atos chegam ao conhecimento da população as suas rotinas são alteradas e ela “deixa de viver com medo de ser vítima dessa violência”. Ela cita também uma das cartilhas da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2002, que alerta sobre o aumento de doenças psicossomáticas nos indivíduos de uma sociedade que tende a se isolar daquilo que é público. É isso o que está acontecendo no momento o Ceará. Cesár Nildo, um mototaxista da região do Benfica de 53 anos, contou que antes chegava em casa apenas depois do sol nascer. Por causa da insegurança instaurada na cidade, agora não trabalha depois das onze horas da noite. Segundo Suiany Moraes, os jovens, principalmente os de periferia, seriam os mais afetados por essa crise, pois é nessa faixa etária que o ser humano está descobrindo a cidade, o mundo a sua volta e se descobrindo. Entretanto, a agressividade crescente nas ruas faz com que eles se tornem mais expostos ao “mau caminho”, diz Suiany. Além disso, a especialista afirma que a cidade não fornece espaços públicos de sociabilidade e lazer, assim, “é o crime que recebe esse jovem que não tem para onde ir”.

Nesse cenário, a moradora do bairro Luciana Castelo Branco, 44 anos, representante do Fórum Cultural do Benfica e uma das organizadoras do ato a favor da paz e justiça ocorrido na praça da Gentilândia na última quinta-feira (15), defende a ocupação das praças e ressalta não ter deixado de viver a cidade dizendo. “Não fico refém dos problemas urbanos”. Um dos jovens skatistas encontrados no local no dia 15, Mateus Mendes, 17 anos, presenciou o dia da chacina e alegou que as suas visitas a praça foram afetadas pela violência. Ele diz que seus pais passaram a demonstrar maior preocupação com os seus passeios com os amigos. Porém, quando questionado sobre as formas em que ele vivencia a cidade, ele relata: “não podemos deixar de viver por causa da violência”.

A ação de ocupar os espaços públicos andando nas ruas, se sentando nas calçadas e saindo com os amigos é mais do que viver a cidade, de acordo com Suiany. “É um ato de resistência e rebeldia contra a violência e o crime”. Entretanto, ela defende que a utilização não deve se dar de forma desordenada, mas de maneira democrática com o auxílio da fiscalização da prefeitura para que todos possam usufruir desses locais.

Manifestações no Benfica Durante a quinta-feira (15) e a sexta-feira (16), a praça da Gentilândia, que havia sido o cenário para quatro das sete mortes que aconteceram na Chacina do Benfica, tornou-se o palco de três atos em favor da paz, justiça e juventude. Na quinta-feira, ocorreu um ato ecumênico organizado com a ajuda de moradores e da prefeitura em homenagem às vítimas da chacina e da morte de Marielle Franco, ativista social e vereadora no Rio de Janeiro, assassinada no mesmo dia do ato. Já na sexta-feira, aconteceram as outras duas ocupações do espaço. Primeiro foi a “Caminhada pela vida e pela descriminalização das torcidas”, que contou com a participação das principais torcidas organizadas do Ceará, como Ferroviário Atlético Clube, Fortaleza Esporte Clube e Ceará Sporting Club. Em seguida, o evento Juventude pela Vida dominou o espaço com uma série de atividades culturais e esportivas. Realizado pela Coordenadoria da Juventude da Prefeitura de Fortaleza, o evento contou com apresentação das bandas Os Alfazemas e Superbanda, campeonato de skate, teatro de rua, capoeira, grafite, entre outros. Infelizmente, um dos torcedores que estava mais cedo participando da passeata foi atropelado por um micro-ônibus e veio a falecer.


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