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A revolução poética em The Sun And Her Flowers, novo livro de Rupi Kaur


Do amor e suas facetas, das causas e das consequências de aceitar o que se é. Um mergulho dentro de si enquanto parte do processo para entender o mundo. Mundo cruel, violento, preconceituoso, casa apenas de alguns, mas ainda válido. Vivo. As definições são múltiplas quando se trata da nova coletânea de poesias da indiana Rupi Kaur, intitulada The Sun and Her Flowers.

O segundo livro de poesia produzido pela jovem e aclamada escritora retoma e amadurece alguns discursos do primeiro, Milk & Honey, lançado originalmente em 2014. Considerada um best-seller consagrado mundialmente, a obra foi traduzida para o português como Outros Jeitos de Usar a Boca. A versão brasileira foi publicada em 2017 e ficou a cargo da editora Planeta do Brasil. The Sun and Her Flowers, lançado em outubro deste ano, ainda não tem traduções para outras línguas além do inglês, mas já está à venda em sites brasileiros na versão física e digital.

A escritora, nascida na Índia, mudou-se para o Canadá com apenas cinco anos de idade. Começou a se expressar artisticamente por meio de desenhos e, em 2014, com 17 anos, ganhou espaço na internet, utilizando seu perfil no Instagram para postar poesias curtas, traço que ainda mantém. O empoderamento feminino e a crítica aos padrões estabelecidos por uma sociedade patriarcal são os pilares para seus textos repletos de amor e confiança.

Dividido em cinco capítulos, The Sun and Her Flowers possui temáticas que conversam e se complementam, demonstrando as fases de uma transformação, uma alusão ao processo de recuperação e renovação de uma flor machucada. Relacionamentos, traumas e ideologias formam a base para discussões propiciadas em toda a leitura, contendo partes tão particulares de uma memória. Além disso, alguns dos textos são acompanhados de ilustrações delicadas, feitas também por Rupi. . O primeiro capítulo, Wilting (Murchando), mostra um eu lírico tentando superar uma desilusão amorosa. A tristeza da verdade crua de quem sabe que, apesar do fracasso, o fim é a melhor opção. A dor do desapego serve para nutrir um amor próprio antes ausente, que se apresenta timidamente a partir do segundo capítulo.

No começo de Falling (Caindo), o eu lírico parece inerte. As lembranças amargas dos abusos, sexuais e psicológicos denotam a dificuldade de envolver-se em novos relacionamentos. No entanto, ao longo do capítulo, Rupi propõe a imersão para o reconhecimento próprio, inspirando qualquer um a persistir na autoaceitação.

Em Rooting (Enraizando), é explorada a belíssima composição da origem de seus relatos: pessoa, força e arte. O terceiro capítulo é sensível, expondo o carinho pelos pais, especialmente pela mãe. A conexão com o ser feminino se fortalece ainda mais a partir deste ponto, o que já é característico da escrita da autora. Há um mergulho na história de Rupi e na de sua mãe. O poema mais duro e também mais crítico do livro, Female Infanticide/ Female Feticide (Infanticídio/ Feticídio Feminino), explicita a opressão sofrida pela mulher indiana desde antes do seu nascimento.

A escrita extremamente romântica do quarto capítulo, Rising (Ascendendo), traz novos ventos para a leitura. A esperança de conseguir amar puramente toma o eu lírico e acentua a conotação sexual. Rupi se utiliza de elementos da natureza (sol, flores, lua) como complemento aos advérbios de intensidade. Apesar dos textos mais curtos, a sinceridade das palavras é marcante.

O sentimento perdura no quinto e último capítulo, Blooming (Florescendo). O amor próprio é totalmente restaurado. O ser feminino é exaltado, descrito como mágico. As reflexões sobre opressão e machismo são densas, claras em suas argumentações. Sem dúvidas, é o capítulo mais introspectivo do livro e o mais contemplativo também.

A irreverência do ser feminino empoderado e inspirador é a característica mais marcante do livro. The Sun and Her Flowers é dotado de uma moral crítica e acessível, que encanta até mesmo quem não tem muito domínio do gênero. É criado um laço afetivo pelo compartilhamento dos pesares de forma franca. Intimista porém comunicativa, a poetisa cria uma atmosfera inclusiva, fraternal. Toda e qualquer identificação que uma leitora mulher tenha com a obra não é mera coincidência. Rupi, de uma forma ou de outra, fala sobre todas nós.


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