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Reeducando Conceitos: depressão não é frescura


Liga Experimental de Comunicação desenvolve campanha para desmistificar doença

A Liga Experimental de Comunicação promoveu, no último dia 3, uma mesa visando esclarecer os inúmeros estigmas e preconceitos que circundam a depressão. Os convidados foram os psicólogos Júlia Shioga e Marco Aurélio Ribeiro, e o debate aconteceu no Centro de Humanidade II da Universidade Federal do Ceará. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão afeta cerca de 121 milhões de pessoas no mundo atualmente, e a negligência social na atenção voltada a essa realidade tem alastrado preocupantemente o número de pessoas adoecidas, além de aumentar a ocorrência de suicídios.


A mesa, de tema “Depressão não é frescura”, era parte de uma campanha do programa de extensão, intitulada “Depressão: reeducando conceitos”. O trabalho foi desenvolvido em apoio ao “Setembro Amarelo”, campanha nacional de conscientização sobre a prevenção do suicídio. Segundo a voluntária da Liga, Aléxia Vieira, o objetivo era dar um suporte para as pessoas que vivem esse cenário todo dia. “A gente quis fazer porque vários ‘liguentos’ ([participantes do programa)] e alunos da UFC que a gente conhece têm depressão. Precisávamos colocar no mundo essa ideia de validação dos sentimentos, para todos entenderem que é uma coisa séria”, afirma a estudante.


A falta de informações sobre o assunto e os paradigmas criados em cima da doença são os principais vilões no aumento das ocorrências. Segundo a OMS, cerca de 60 a 80% dos casos de depressão podem ser tratados com medicação e terapia, e nove em cada dez suicídios poderiam ser prevenidos. No entanto, apenas 30% dos pacientes diagnosticados são tratados adequadamente, a cada 100 pessoas com depressão, 15 decidem acabar com a própria vida e a taxa de brasileiros que cometem suicídio (32 por dia) é superior às vítimas de AIDS e da maioria dos tipos de câncer. “Nós precisamos naturalizar o que precisa ser naturalizado, desmistificar e tratar como saúde pública”, explica a psicóloga Júlia Shioga.

A estudante de Jornalismo Líllian Santos, 22, mostrou-se feliz com a iniciativa, indicando a importância da ação para ela. “Os convidados esclareceram muita coisa, e eu adoraria que outras pessoas tivessem a oportunidade (e a curiosidade) de ouvir sobre um assunto tão importante. É uma realidade tão próxima da gente! Acho que temos medo e preconceito de nos conhecermos”, comenta a jovem, e desabafa: “Fico triste porque a maioria das pessoas só se interessa pelo assunto na época do ‘Setembro Amarelo”.


Para o doutor Marco Aurélio, é de suma importância tratar o assunto com seriedade. “Depressão não merece piada. Depressão não é falta de Deus. Não é o oposto de felicidade, é a dor de uma perda na qual você não sabe o que perdeu, é o oposto de vitalidade”, declarou o psicólogo. Segundo o psicológoMarco Aurélio, o modelo de sociedade atualmente construído é responsável por intensificar a doença. A lei do consumo excessivo e do prazer imediato criaram uma humanidade que desaprendeu a lidar com frustrações, tornando a depressão um dos transtornos mais comuns do mundo.


Apesar do grande número de casos depressivos, Júlia aponta que é necessário ter o cuidado com o diagnóstico. “A gente não pode achar que tudo é depressão. Existem alterações comuns de humor. Cada um precisa descobrir qual é o seu normal, e a terapia é importante para esse aspecto”, defende a especialista. Segundo os psicólogos, existem diversos métodos que ajudam na recuperação do paciente. O primeiro passo é se livrar dos preconceitos e procurar ajuda, já que acompanhamento profissional é fundamental. Além disso, atividades sociais, exercícios físicos e o cuidado com gatilhos emocionais podem evitar a sucessão de crises e o agravamento da doença.



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