As dificuldades e os desafios por trás dos estágios supervisionados
- Eduarda Porfírio
- 26 de set. de 2017
- 3 min de leitura

Uma das decisões mais importantes na vida de quem deseja entrar para uma graduação é qual curso se deve escolher. São vários pesos e medidas, contudo, o valor monetário relacionado à profissão, às vezes, é o que conta mais. Após esse primeiro passo, quando dentro da universidade, o aluno pode ter uma experiência parecida com o que o espera no mercado de trabalho: o estágio. No entanto, para alguns estudantes, o que deveria ser uma espécie de treinamento, se torna quase um pesadelo, quando as pressões e cobranças acarretam problemas psicológicos nestes.
Conforme a Lei do Trabalho de n° 11.788/2008, o estágio é considerado uma maneira de inserção do estudante no mercado de trabalho. O texto exposto explica que esta é uma atividade de cunho educacional, que acontece com supervisão da instituição de ensino e que possui como maior foco realizar uma preparação com o estudante para o futuro trabalho profissional.
De acordo com pesquisas de 2016 da Agência Brasileira de Estágios, dos 9.601.576 alunos do Ensino Médio e técnico, apenas 2,7% estagiam. No Superior, são 8.027.297 alunos, com apenas 9,2% estagiando. Uma situação, de fato, complicada, principalmente para os graduandos, que têm de enfrentar a pressão tanto de ter um bom desempenho acadêmico, com participação em projetos extras às aulas, boas notas e atividades complementares, quanto o de arcar com suas próprias despesas. Os estágios devem funcionar como um ensaio para o mercado, tendo um profissional da área orientando o aluno e supervisionando-o. Contudo, é comum ouvir de estagiários que lhes são cobradas funções de pessoas formadas, por exemplo.
Para começar, há a pressão de, primeiramente, conseguir um estágio. Para Eduardo Oliveira, superintendente de operações do Centro de Integração, e Carlos Henrique Menaci, presidente da Associação Brasileira de Estágios (Abres), o estágio deve ter início ainda nos semestres iniciais, de preferência. Em reportagem à EBC, eles argumentam que existe um grande número de vagas para estágio. Apesar disso, a complicação de se conseguir esse vínculo empregatício ainda enquanto estudante é grande, e, depois de conquistada a vaga, mantê-la acaba sendo outro desafio.Além disso, há a sobrecarga de horários. A maior queixa dos estudantes é a de ter que escolher entre a vida acadêmica e uma possível inserção no ramo profissional. A má distribuição das disciplinas na faculdade dificulta a experiência do aluno no estágio e, posteriormente, o desempenho deste no curso, visto que que ele, ao invés de viver, busca sobreviver. A aluna do curso de Jornalismo da UFC Raiane Ribeiro chegou ao extremo de se demitir de seu primeiro estágio por não conseguir lidar com a carga horária excessiva. "Trabalhava duas semanas seguidas para um final de semana, sempre. Se tivessem me informado como seria antes, não teria aceitado”, confessa.

A psicóloga Nayara Nogueira afirma que a pressão pela busca de um estágio pode ser um dos fatores que desencadeiam certos transtornos mentais, como a ansiedade. "Não é algo que se dá por causa e efeito. É multifatorial, é histórico, genético, socioeconômico, social”, pondera, explicando que o macro tema política-economia é a raiz do problema. No caso de Raiane, a pressão começou já no terceiro semestre de faculdade. “Eu via todo mundo com bolsa, indo atrás de estágio, aí bateu aquele desespero. O que eu teria para colocar no meu currículo?”, declara a universitária. Um estudo feito pela psicóloga Karen Mendes Graner apontou que cerca de 18,5% a 44,9% dos alunos do Ensino Superior sofrem com depressão ou ansiedade, principalmente os da área da saúde.
Um dos motivos seriam as expectativas ruins acerca do futuro profissional, algo que pode ser desenvolvido durante uma má experiência em um estágio. “Problemas que surgiram durante esse período podem potencializar-se no decorrer da vida profissional”, afirma Nayara.
O outro lado
Segundo estudos, o estágio é responsável por proporcionar uma troca de experiências, com o consequente aumento da aprendizagem entre as partes envolvidas e um crescimento profissional a mais para o currículo do estagiário.
O estudante do último semestre de Psicologia na UFC e estagiário da Clínica Escola, Maxwell Cândido Lima, reforça a face positiva desse cenário. “Os estágios e a experiência na universidade em si não são os vilões, apesar de se ter toda aquela pressão para o sucesso”, afirma. Ele encara o estágio como uma experiência bacana tanto da profissão como de conhecimento, pois lhe permite entrar em contato com diferente pessoas, algo que ele afirmou acrescentar muito em sua vida.
Maxwell afirma, ainda, que são comuns os transtornos nos universitários não ligados diretamente ao estágio, mas a vários fatores, conforme também disse Nayara. "Para saber o que causa um transtorno, tenho que saber a história toda [...] Muitas vezes as pessoas tem dificuldade de se adaptar, problema de maturidade, uma base não muito boa”, frisou.
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