Assédio em transportes particulares preocupa motoristas e passageiras
- Guilherme Conrado
- 19 de set. de 2017
- 3 min de leitura

A Uber, empresa de transporte particular, recebeu uma liminar, regularizando a atuação de seus motoristas no território da capital. A decisão, executada no fim do mês de agosto, determina que órgãos públicos, como a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) e a Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e Cidadania (AMC), não podem restringir qualquer ação contra o exercício da empresa. .Apesar de isto ser uma vitória comemorada por usuários e motoristas, que lutavam há quase um ano para regularizar sua situação em Fortaleza, um problema recorrente ainda atinge particularmente as mulheres no aplicativo. O assédio dentro de veículos continua ocorrendo tanto contra as trabalhadoras quanto contra as passageiras.
Consolidada em quase oitenta países em todo o mundo e em trinta e sete cidades do Brasil até dezembro do ano passado, a empresa visa conseguir até 2020 ter um milhão de motoristas mulheres. No entanto, dos 60 mil motoristas cadastrados no aplicativo, só 2% são mulheres, segundo Ricardo Kauffman, gerente de relações públicas da empresa, em uma matéria para o jornal Folha de S. Paulo. Mesmo com a pouca quantidade de motoristas mulheres, os relatos de assédio são cotidianos.
De acordo com o presidente da Associação dos Motoristas Privados Individuais de Passageiros (Ampip-CE), Antônio Evangelista, em casos de assédio contra passageiras, o primeiro ato é bloquear o motorista reportado, sendo impossibilitado de receber solicitações de corridas. “É difícil o motorista retornar a Uber após o fato”, afirma. Por questões de sigilo, a empresa não disponibiliza os números de assédios ocorridos.
Segundo relata a motorista da Uber Juliana Marta de Oliveira, que também era atuante de uma associação dos motoristas particulares do Ceará, foram criadas estratégias de alerta devido às questões de assédio contra mulheres. “Sempre havia uma atenção maior porque querendo ou não, somos alvos mais fáceis. No intuito de proteção, utilizávamos um aplicativo que funcionava 24h como rádio em tempo real e éramos monitorados também em tempo real por outro aplicativo, que dispunha de um botão de pânico, acionando em caso de necessidade os parceiros mais próximos e a polícia”, relata.
Nova Alternativa
Na busca por mudar essa realidade, a ex-motorista da Uber, Eveline Carolino, teve a ideia de criar um aplicativo de transportes voltado para mulheres. Enquanto trabalhava na Uber, ela conta que ficava incomodada ao ouvir histórias de assédio relatadas por diversas passageiras. “Eu escutei coisas tão ruins dentro do meu carro, que teve um dia que fiquei com vergonha porque estava a passageira chorando e eu chorava junto porque não conseguia acreditar que aquilo tinha acontecido com ela”, compartilha.

Monique Guimarães e Eveline Carolina, sócias do Divas For, recebem diariamente dezenas de e-mails agradecendo a criação do aplicativo (Foto: José Henrique)
Com o intuito de oferecer uma alternativa de transporte privado em que as passageiras pudessem se sentir mais seguras, Eveline se juntou a outras duas motoristas, Monique Guimarães e Cibele Bezerra, para criar o Divas For, um aplicativo onde mulheres dirigem para outras mulheres - homens só são permitidos como acompanhantes. Em funcionamento desde o dia 20 de julho de 2017, o serviço cresceu rapidamente com a divulgação pessoal e com a atenção que a mídia deu ao projeto. Hoje, o Divas For possui 115 motoristas ativas e mais de 7.000 usuárias.
Ainda segundo a idealizadora do aplicativo, a iniciativa de garantir segurança para passageiras e motoristas é o início de um projeto maior. “Atualmente estamos nos concentrando nas mulheres, mas a proposta é que no futuro as Divas possam atender toda a população de Fortaleza”, comenta Eveline.
Outro fator diferencial no Divas For é a rentabilidade obtida pelas funcionárias. Eveline diz que quando trabalhava na Uber, considerava o sistema injusto. A empresa multinacional retém um percentual de todas as viagens realizadas por seus motoristas. As sócias do Divas For instituíram uma logística diferente em seu negócio: cada motorista paga um valor mensal de R$ 200 para utilizar o aplicativo, e tudo que ganharem com as corridas fica para elas.

Antes de criar seu próprio aplicativo, Eveline era motorista da Uber. Segundo ela, 70% das motoristas do Divas For também migraram da Uber (Foto: José Henrique)
Para o público, a novidade é bem vinda. A estudante Jaqueline Mota afirma que em todas as vezes que usou o aplicativo se sentiu bem recebida. “Eu fico bem mais à vontade. Quando é assim, de mulher de pra mulher, fica até mais fácil de iniciar uma conversa”, comenta ela.
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