Sebo nosso de cada dia

Cenário universitário reconhecido na cidade de Fortaleza, o Benfica acomoda grande quantidade de sebos. No Brasil, a instalação dos sebos foi tardia, decorrente do atraso da implantação das tipografias, em meados do século XIX. Para facilitar o acesso dos estudantes, fixaram-se em locais de formação e educação, como universidades, escolas preparatórias e seminários. E é nesse contexto que o bairro está inserido.

Surgidos na Europa antiga, os sebos servem de lar para livros usados, a fim de passá-los adiante, de levá-los a novos donos e contar novas histórias. Nestes lugares, estes podem ser “adotados” por um preço bem mais acessível do que nas livrarias convencionais.

Neles, encontramos livros de todas as caras - best-sellers, que já saíram de circulação, antigos, raros -, e de todas as gêneros e temas. São um verdadeiro refúgio para os amantes da literatura e saída para quem precisa de livros, mas está com a “grana curta”.

Em seus apertados corredores murados por prateleiras atarracadas de exemplares, é difícil não encontrar um título que chame a atenção e desperte a vontade de tê-lo. Fazem parte da história de quem ama a literatura, de quem compartilha e absorve o mundo das obras literárias.

“Os sebos são, por excelência, esses lugares onde encontramos os livros impossíveis, os livros improváveis, aqueles livros que procuramos uma vida toda”, é o que diz a professora de história da Universidade Federal do Ceará, Adelaide Gonçalves.

Os sebos e as cidades

Os sebos localizam-se em áreas de grande teor histórico para a cidade: no centro, próximos a praças e nos arredores de universidades. Adelaide Gonçalves, também dona do Plebeu Gabinete de Leitura afirma que os sebos, além de difundirem o livro e a leitura, têm importância fundamental no estudo e na construção do retrato histórico de uma cidade.

brechó literário rimbaud

brechó literário rinbaud - revista vós

Imagens retiradas do site da Revista Vós. Matéria do dia 26/10/2016

Devido à proximidade com o universo literário desde a infância por estímulo dos pais, a proprietária do Brechó Literário, Deborah Maia, sempre teve gosto pela leitura. O sebo foi criado como uma forma de para passar mais tempo ao lado de seu ex-namorado, que na época, que vivia ocupado trabalhando em livrarias. O trabalho começou com vendas na internet e, para alavancar público para a loja física, recorreu ao “boca a boca”.

Deborah decidiu por ser flexível com relação aos preços das obras, dando descontos a qualquer pessoa, professor ou não. Também disponibiliza o espaço para a realização de eventos culturais, a fim de promover uma maior divulgação.

Lugar de ser

Adelaide Gonçalves ressalta o teor de “encontro consigo mesmo” que os sebos têm. “O sebo é lugar de partilha, de intercâmbio, de troca. É lugar onde aguçamos a nossa sensibilidade acerca do livro e da leitura, e constitui um lugar primordial na história daqueles que demonstram o seu amor pelos livros”, afirma. Isso, segundo ela, torna esses lugares maiores que simples espaços comerciais.

Deborah Maia fala da questão ecológica dos sebos, em um patamar tanto ambiental quanto cultural. "Só em existir esse espaço eu já acho que a cultura é preservada. Só em ser um espaço cheio de livros, livros que eu reutilizo e reciclo. Porque eu quero que as pessoas que pegam tenham mais motivação para ler esses livros, para levar para casa", diz.

O estudante de jornalismo da UFC e assíduo frequentador de sebos, Guilherme Conrado, fala das vantagens de comprar livros nesses locais. E conta da felicidade que encontra estando cercado por milhares de títulos. “Me sinto em um mar que possivelmente nunca poderei explorar por completo. A variedade de obras é maior do que em muitas livrarias da cidade, e isso me traz confiança quando estou em busca de algum título específico”, compartilha.