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De Dante para Dalí: A Divina Comédia sob as nuances do Surreal

  • Dominick Maia, João Victor e Januele Cavalcante
  • 31 de mai. de 2017
  • 4 min de leitura

Fotos: João Victor

Segue-se até 2 de julho a exposição “Dalí: A Divina Comédia”, na CAIXA Cultural Fortaleza, onde pode-se encontrar uma centena de aquarelas do pintor catalão Salvador Dalí (1904-1984), feitas sob encomenda para o 700ª aniversário do escritor Dante Alighieri (1265-1321) em meados do séc. XX. As xilogravuras representam os 100 cantos do Poema Sagrado de Dante (posteriormente renomeado como “Commedia”), este dividido em 3 partes principais: O Inferno, o Purgatório e o Paraíso. Seguindo a estética da obra, o espaço cultural da CAIXA apresenta um ambiente contextualizado que convoca o visitante a realizar o mesmo percurso feito por Dante na obra “A Divina Comédia”. No entanto, ilustrada de forma onírica pelo mestre do surrealismo, Dalí.

Movimento da história da arte do século passado que se pautou fundamentalmente no poético e pelo espírito onírico, o surrealismo presta-se a uma reflexão sobre a contaminação do universo da fantasia, do sonho e da atividade inconsciente, e portanto, do encontro de realidades, pelo universo do sonho, tal qual a obra de Dante, repleta de simbolismo.

A aproximação do surrealismo de Dalí e do épico de Dante resulta em uma curiosa dramatização onde o divino é desnudado e aparece sua natureza transcendente. A técnica de Dalí deixa entrever a sua profunda seriedade, na tentativa de, bem como o divino em A Divina Comédia, ampliar a vã percepção humana. Não é por acaso que ele foi requisitado pelo governo italiano para tal trabalho.

Depois de receber, em 2013, obras do pintor brasileiro e também surrealista, Ismael Nery, e, em 2015, exposição de Leonardo Da Vinci, Fortaleza é, mais uma vez, palco de um celebrado artista. Hoje, a maioria das exposições, seja internacional ou nacional, que viajam pelo país, passam por Fortaleza. Cada vez mais inserida no circuito das artes plásticas, a cidade apresenta-se com uma intensa demanda de exibições, tanto por instituições públicas, empresas da iniciativa privada e pelos admiradores de arte da capital cearense.

A Exposição

A primeira sala é dedicada ao Inferno, com 34 imagens. As paredes vermelhas contrastam com a intensidade das pinturas quadradas. Sofrimento e dor são a punição recebida pelos pecadores e estes são, comumente, retratados em quadros separados na disposição linear da sala. O segundo espaço corresponde ao Purgatório, por sua vez de paredes pretas, e um terceiro ao Paraíso — de paredes brancas — com 33 quadros cada. Acompanhando as pinturas, há placas indicando a sequência dos cantos em números romanos e fragmentos literários da obra de Dante para contextualizar cada obra. Sendo assim, compondo uma assonância, ora harmoniosa, ora conflitante, entre o texto original e as interpretações do pintor.

img. 1: Opostos (Paraíso); img. 2: O anjo caído (Purgatório)

Inferno

A primeira parte da obra (e da exposição) é o Inferno de Dante, descrito como : “um cone invertido, uma espiral projetada para baixo contendo nove voltas que vão diminuindo de diâmetro de acordo com a magnitude dos pecados cometidos em vida.” Misturando figuras mitológicas gregas-romanas como Cerberus e o Minotauro e mitologia cristã-judaica, uma tendência recorrente nas 3 etapas da redenção de Dante, Dalí pinta figuras com corpos deformados, retratando a degradação do corpo diante da punição severa do Inferno.

Purgatório

Descrito pela exposição como : “uma montanha cujo pé é o Antepurgatório e no seu topo encontra-se o paraíso terrestre. Entre estes dois pontos estão localizados sete terraços divididos em escada, onde serão perdoados os sete pecados capitais que irão ascendendo e se tornando mais leves: orgulho, inveja, ira, preguiça, avareza, gula e luxúria.” Nessa parte o gênio — e o orgulho — do pintor espanhol contrasta-se com as descrições do escritor italiano, figuras humanas são abundantes e as cores se tornam mais brandas, as pinceladas mais leves, a deformação corporal é abandonada e agora se vê figuras humanas com aparência etéricas, anjos caídos, gavetas vazias. Dalí ousa retratar os dilemas da humanidade dentro do purgatório.

Paraíso

Novamente o caráter hierárquico do mundo pós-morte é presente : “Os cantos do terceiro livro narram o mundo imaterial do Paraíso, dividido em nove céus.”. Dante ascende aos céus acompanhado de anjos para, por fim, encontrar-se com Deus com auxílio da fé e do amor. No Paraíso, Dalí retrata imagens, majoritariamente, monocromáticas, de figuras turvas, não definidas. Abandonando a carne humana, os desenhos perdem o traço, a constância física, e Dalí alcança a representação máxima da linguagem onírica : a pintura do Paraíso como um sonho. Assim, Dante cumpre o itinerário da pós-morte, alcançando, ao fim, o sonho eterno.

A obra de Dalí tem como ponto de partida a construção do caminho delineado na obra de Dante sob a perspectiva surrealista presente no imaginário do pintor. O resultado é a união de palavras e imagens de modo a criar um acervo cultural que dialoga e se complementa e é de grande relevância para a sociedade.

Essa relevância pode ser percebida pelas motivações que levam os cidadãos - principalmente os de Fortaleza e da região metropolitana - a visitarem a exposição. A estudante do ensino médio Gabrielle Miranda revela: "Acho as obras dele muito interessantes, pois isso de retratar seus pensamentos e sonhos, mesmo que absurdos, é intrigante." Entretanto, ainda são poucos que dedicam algum tempo para uma visita, ou porque não são tão motivados pelas artes, ou porque ainda desconhecem a existência da exposição. Uma pena, porque vale e muito a experiência.

Serviço

Dalí: A Divina Comédia

de 26 de abril a 2 de julho de 2017

terça-feira a sábado, das 10h às 20h | domingo, das 12h às 19h

Caixa Cultural Fortaleza (Avenida Pessoa Anta, 287, Praia de Iracema)

Entrada Gratuita

Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos


 
 
 

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