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Desencontro

  • Heloísa Vasconcelos
  • 27 de nov. de 2016
  • 2 min de leitura

Sol de 11 horas da manhã. Subo as escadas até o Farol: um prédio velho, acabado e com cheiro de urina. As paredes estão rabiscadas com pixos, assinaturas e desenhos, algumas fotos e lambes estão colados nelas. O lugar está vazio, a não ser por dois homens desconhecidos e uma amiga que me acompanhava. A vista lá de cima é de uma beleza que eu ainda não havia visto em 12 anos morando em Fortaleza.

O mar se mistura às várias casas da comunidade Serviluz, tão juntinhas que parecem se encaixar. Tenho um velho costume de imaginar a vida de pessoas que não conheço, e, sem nem perceber, imagino a vida ali. Imagino o quão diferente da minha é a vida de cada uma daquelas pessoas. Sinto um calor no peito ao pensar no quão divertida deve ser a vida das crianças ali, morando tão perto do mar. E também nos vários problemas sociais que muitas delas enfrentam ou já enfrentaram e eu nunca sonhei em ter.

Percebo que, às vezes, me acomodo na minha vida, no meu bairro. Penso conhecer a cidade por pegar um ônibus até a faculdade e voltar. Mas há tanto pra se ver! Fortaleza tem um milhão de histórias pra contar em um sábado de manhã. Basta saber olhar. Apesar da sensação eterna de que todo mundo se conhece nessa cidade, a gente não sabe nem a metade.

Quantos lugares eu nunca passei? Quantos já passei e, avoada como sou, não percebi? Quantas histórias não conheci — e nem vou conhecer? É de deixar um jornalista ávido por histórias no mínimo incomodado e decepcionado consigo mesmo.

Fiquei pouco tempo lá, passada a epifania. Ao sair, os dois desconhecidos acenaram para mim. Acenei de volta um pouco sem jeito no momento, mas agora, parando para escrever sobre isso, penso que talvez eles tivessem coisas legais pra me contar.

Gostaria de ter visto o pôr-do-sol de lá. Pôr-do-sol é outra coisa que deveríamos ver em lugares diferentes. Colocarei isso em minhas metas para 2017.


 
 
 

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