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De alunos para alunos

  • João Duarte, Juliana Teixeira e Leonardo Maia
  • 2 de nov. de 2016
  • 4 min de leitura

Estudantes de graduação se voluntariam em cursos pré-vestibular de Fortaleza Um misto de altruísmo, solidariedade e senso de coletividade define o fato de estudantes universitários voltarem, como professores ou coordenadores voluntários, aos cursinhos de onde foram alunos. Auxiliar os que ainda vão enfrentar o vestibular é um gesto simbólico de humanidade. A prática é cada vez mais comum e as motivações são diversas.

Nijayr da Silva, 30, estuda Administração na Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordena o “VemSer – Aprendizes de Papel”, cursinho comunitário situado no Conjunto Esperança, em Fortaleza. Para ele, esse retorno tem muita importância, mas é preciso atenção. “É bom ver essa volta, entretanto percebemos que ainda não há um engajamento efetivo de uma boa parte dos ex-alunos. Isso tem comprometido a renovação do projeto. De maneira geral, o senso de solidariedade entre os jovens ainda é insuficiente”, desabafa. O projeto ganhou vida há 11 anos e já atendeu centenas de jovens de baixa renda advindos de bairros como Aracapé, Mondubim e Parque São José. A regra é simples: quem obteve êxito no vestibular, continua no curso, porém, dando força aos que chegarem. As inscrições custam R$10 e as 60 vagas para as aulas que acontecem aos fins de semana são distribuídas anualmente.

Além de dirigir, Nijayr também dá aulas de química. Foto: João Duarte.

Apostar na medida coletiva pode trazer a realização do sonho da aprovação na universidade. Foi o que aconteceu com Pedro Benevenuto, 25, ao ingressar em Geografia. Ele vê a ideia do cursinho como fundamental na sua caminhada: “O Cursinho foi fundamental tanto na preparação para os vestibulares da UFC, quando os da UECE. Em 2010 comecei a dar aula, iniciando a atividade de professor de Geografia, já em 2014 quando, terminei a licenciatura, desenvolvi na pesquisa o trabalho que já havia começado no Projeto”, lembra. Entretanto, fortalecer esses laços solidários não é tarefa fácil e lidar com problemas estruturais, por exemplo, é algo recorrente. “Em geral, o que arrecadamos com as matrículas é suficiente apenas para a primeira metade do ano, sobretudo porque nossa impressora quebrou e agora pagamos xerox por fora. Os preços de pincéis e resmas também aumentaram bastante. Tudo parece encarecer”, pontua Nijayr. Jonas Almeida, 22, também é voluntário do projeto e sente na pele a falta de reconhecimento do trabalho. Para ele, a falta de engajamento da sociedade como um todo, impossibilita maiores números de aprovação do cursinho. “Até de nossos pais ouvimos coisas como ‘tu vai trabalhar de graça?’, além da falta de procura das pessoas e de políticos, que só pensam no voto”, complementa Jonas. NOVO VESTIBULAR

Jessica Castro, 24, distribui o tempo entre estudar, trabalhar e coordenar o Projeto Novo Vestibular (PNV), que funciona no Centro de Humanidades 2 da UFC. Foi aluna do cursinho e acredita que o ato de voltar e ajudar solidifica seu processo de formação. A colaboração com o cursinho é, para ela, uma forma de fazer juz à pedagogia, carreira que escolheu seguir. “O PNV cumpre um papel que é negado pela própria universidade - abrir suas portas ao povo. Quanto mais a comunidade universitária se insere em um contexto de sociedade capitalista, mais ela se fecha em si, aumentando seus muros. O curso promove o acesso de alunos da escola pública para dentro dos espaços da universidade, onde muitas vezes esses sujeitos não teriam oportunidades”, avalia. Para João Everton, 17, aluno do projeto, a relação de confiança entre ele e a coordenação é satisfatória. “Por terem passado pela fase [do vestibular] há não muito tempo, creio que elas sabem exatamente como estão nossos nervos”, confirma. Se João vai voltar e ajudar o PNV um dia, não se sabe, mas a conexão que criou ali não vai se desfazer tão cedo. PAULO FREIRE Mais um exemplo de voluntariado, o pré-vestibular Paulo Freire iniciou suas atividades em 2000 pela iniciativa de estudantes da Faculdade de Direito da UFC com a proposta de democratizar o ensino, muito elitizado na época. Uma mensalidade de R$25 que é cobrada atualmente, custeia o material didático utilizado pelos alunos, devido à falta de patrocínio privado e de apoio da própria UFC.

Foto: Juliana Teixeira. Débora Ximenes, aluna do 5º semestre de Direito e atual presidente do cursinho, se envolveu no projeto em 2015. “Eu me identifiquei muito com o Paulo Freire porque o público alvo eram alunos de escola pública (...). Eu fiquei muito feliz porque os alunos aqui querem entrar na universidade, eles têm esse sonho, onde eu estudava, no interior, não havia esse interesse, muitos não queriam terminar nem o ensino médio”, pontua. Um dos problemas enfrentados pela coordenação do PF hoje é a evasão. Os alunos, por serem de baixa renda, têm dificuldades financeiras que acarretam na falta de recursos para suprir necessidade básicas. Entre elas as passagens de ônibus (com o agravante de que muitos vêm da região metropolitana) e a deficiência em relação à alimentação nos arredores da FD, principalmente após o fechamento da cantina que havia na Faculdade. Para contornar essas questões, o PF busca alternativas como a efetivação do CNPJ, que abre portas para um processo menos burocrático de patrocínio por empresas. Além disso, o apadrinhamento dos alunos pelos professores, que vão “adotar” alguns estudantes e buscar compreender suas dificuldades no decorrer do curso, deve colaborar com o melhor funcionamento do projeto. As aulas deste ano terminaram no último sábado (29), com o “Haulãoween”, um aulão aberto ao público externo voltado à preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que deve acontecer no próximo fim de semana (4 e 5/11). A proposta busca o alívio da tensão tão recorrente entre os candidatos nos dias que antecedem o exame.


 
 
 

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