Resenha - O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks, de E. Lockhart
- Adélia Farias (edição: Alana Lins)
- 26 de out. de 2016
- 3 min de leitura

Foto: Livre nos Livros
Para alguém que se encontrava completamente saturada de sagas, trilogias fantásticas e romances adolescentes água com açúcar e previsíveis (sem contar com os livros que a faculdade exige ao longo do semestre), O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks, escrito por E. Lockhart, publicado pela editora Seguinte em 2013, foi como uma bebida energizante. Depois de ter lido Mentirosos, da mesma autora, as expectativas estavam nas alturas e fico feliz em dizer que matei a saudade de me sentir presa numa história e não conseguir parar de ler por dois dias seguidos (literalmente).
O livro tem como protagonista Frances Rose Landau-Banks, mais conhecida como Frankie, uma garota entrando na puberdade e vivenciando as tão esperadas mudanças corporais da transição. Ela é vista por todos do colégio interno no qual estuda como uma simples garota inteligente, um pouco nerd, membro da equipe do Clube de Debates e algumas vezes notada por ser irmã mais nova de Zada, uma das garotas que sentava na mesa dos populares. Por isso, Frankie passa longe da lista de suspeitos por trás dos feitos da Leal Ordem dos Bassês, uma sociedade secreta antiga da escola, composta exclusivamente por homens. Frankie consegue infiltrar-se, secretamente, na Ordem depois das férias, em que conhece e começa a namorar Matthew Livingston, um garoto cujos níveis de beleza e popularidade estavam muito acima dos dela, e, além disso, é membro da Ordem.
Não se engane pensando que esse livro é mais um romance adolescente nos high schools do mundo literário americano — como eu inicialmente fiz e quase desisti do livro. O objetivo de Frankie durante a trama inteira é de provar para si mesma que não é mais a princesinha da família, uma garotinha indefesa e desajeitada que acabou por se tornar uma adolescente cheia de curvas. Ela faz de todas as suas atitudes, muito bem pensadas, um degrau a subir a caminho de sua independência. O impressionante senso crítico misturado com a típica teimosia e necessidade de se encaixar de todo adolescente, dado a Frankie por E. Lockhart, é o que faz o leitor se apaixonar pela protagonista.
A autora faz uso de um humor sarcástico, irônico e inteligente para caracterizar seus personagens. Além disso, todos eles são extremamente realistas, nada de perfeição impossível, e cada um tem um papel muito bem definido e necessário na trama, contribuindo para a reflexão sobre toda a estereotipagem feminina e padrões definidos pela sociedade extremamente machista e patriarcal em que a protagonista se encontra, enquanto discute e questiona, constantemente, seu papel nela durante a história. Frankie luta com unhas e dentes para quebrar qualquer presunção a seu respeito por ser uma adolescente bonita e, mais clara e frequentemente, por ser mulher. Ela não quer ser conhecida como “a namorada do cara popular”, não quer se sentir descartável e desnecessária, e isso justifica todas as suas ações.
Frankie age impulsivamente, sem dúvida alguma. Ainda que suas ações pela Ordem dos Bassês sejam secretas, ela frequentemente preocupa-se com o modo como os novos amigos a veem, o que pensam sobre ela, e especialmente com seu relacionamento. Apesar do senso crítico muito bem desenvolvido, inteligência acima da média e reflexões sérias a respeito da sociedade em que está inserida, a autora deixa claro, por meio de um humor sarcástico, que Frankie é uma adolescente em busca de reafirmação, encaixe e, algumas vezes, também de atenção. Isso pode dar a suas motivações um ar infantil, uma birra típica adolescente, o que contribui para o leitor situar-se na história, para lembrá-lo que a protagonista é, acima de tudo, uma adolescente

Foto: Pipoca Musical
O livro é repleto de histórias reais que baseiam os planos de Frankie, trechos de aulas que explicam teorias maravilhosas como a do pan-óptico, escrita por Foucault, a qual permanece na narrativa durante o livro inteiro. Todos os bilhetes, emails e cartas, particularidades que contribuem para o clima de mistério do livro, são muito bem representados ao longo das páginas. A capa e o título também passam o ar misterioso da história, fazendo com que o julgamento inicial seja positivo, antes mesmo do início da leitura, e, após ela, ao dar uma boa olhada para ambos, o leitor pode notar várias referências e perceber que o conjunto dá um ar heroico a Frankie, valorizando toda sua luta durante a história.
Para quem quer fugir da realidade e ainda assim estar imerso nela, O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks é uma escolha perfeita. Todos os personagens são marcantes e apaixonantes. A quebra do padrão de romance americano, o empoderamento feminino e o desenvolvimento de Frankie deixam história instigante e as aventuras mantêm o ar misterioso durante toda a narrativa, além de fazer o leitor refletir sobre o patriarcado e o pan-óptico particular em que cada indivíduo vive na própria realidade. E a capa, diga-se de passagem, fica linda na estante de livros.
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