Benfica: Problemas estruturais afetam cotidiano dos alunos
- Ana Beatriz Nunes e Lucas Casemiro
- 4 de mai. de 2016
- 4 min de leitura

Foto: Emanuel Silva
Banheiros precarizados, quedas de internet e restrições na acessibilidade são algumas das situações recorrentes no campus do Benfica. Com as chuvas fortes de início de ano, a situação pode se complicar em locais com estrutura debilitada.
O campus do Benfica da Universidade Federal do Ceará enfrenta problemas estruturais há tempos. Recentemente, quedas de internet impediram os alunos e professores de seguirem com suas aulas tranquilamente. Karen Lima sentiu na pele, ou melhor, na tela do celular, o impacto da falta de internet no seu departamento. Aluna do quinto semestre de Ciências Sociais, ela reivindica a democratização do serviço dentro do campus, o que prejudica inclusive professores. Perguntada sobre o impacto disso nas aulas, ela prontamente responde: “Às vezes o professor quer acessar alguma coisa, aí não tem internet e tem que ficar perguntando ‘alguém sabe a senha?’ ou ‘alguém tem internet no celular que possa olhar?’ e acaba prejudicando muito a aula”, afirma.
Alan Jeferson, funcionário terceirizado da instituição, acredita que a complicação da internet se dá devido às companhias provedoras, e não à Universidade. Segundo ele, o problema é generalizado. “É em todo local, não é só aqui. Eu sou estudante da Unifor, lá também acontece. Uma hora a internet está bem estável, você consegue acessar tudo, outra hora cai. Isso também é consequência do número de usuários. A quantidade de usuários é muito grande, e o acesso é limitado”.
Para o docente Ronaldo Salgado, do curso de Comunicação Social, a realidade infraestrutural do curso de jornalismo é confusa e prejudicial para as práticas laboratoriais. Professor da cadeira de Jornalismo Impresso, é diretamente impactado com os problemas “burocráticos” por que passa a instituição. Relata que o prejuízo se dá pelas eventuais faltas de acesso à internet, pela falta de material humano que possa atender às demandas específicas dos laboratórios (manutenção, atualização e organização), assim como pela defasagem estrutural dos laboratórios, que possuem programas de computador obsoletos, prejudicando assim a atualização das unidades curriculares. Ressalva ainda que logística de funcionamento dos laboratórios não consegue atender às muitas disciplinas que necessitam desses equipamentos para atingir um desempenho satisfatório do ponto de vista do processo de ensino e aprendizagem.
Isso tudo, somado ao retardo na atualização tecnológica, inevitavelmente prejudica os alunos. “Se nós pensarmos na estrutura do mercado de trabalho hoje, na realidade das redações, tanto de emissoras de rádio como de TV, o processo de atualização não só dos hardwares como dos softwares é vertiginoso, muito rápido, e a universidade tem dificuldade de acompanhá-lo”, declara Ronaldo.
Sobre as salas de aula, a principal queixa é a superlotação, seguida do calor. De acordo com os discentes entrevistados, a quantidade de colegas não é exacerbada, o problema está na própria arquitetura das salas, incapaz de comportar a todos confortavelmente. “Agora percebo que eu estou numa sala de aula com muito pouco espaço para muita gente”, comenta Rodrigo Bezerra, mestrando em linguística. Os alunos do Benfica permanecem em salas pequenas, muito próximos um dos outros, o que aumenta a sensação de calor. Fato agravado, algumas vezes, pela baixa potência dos ares-condicionados, o que pode gerar, inclusive, falta de concentração nos alunos.
Além disso, existem outros problemas dos quais os alunos se queixam, como a falta de acessibilidade dos espaços e as inundações em épocas de chuva. Apesar de tudo, Rodrigo Bezerra, que iniciou os estudos em 2005 e graduou-se em 2009, percebe melhorias nos serviços essenciais já nesse intervalo. Agora, como aluno de mestrado, relata que alguns problemas permaneceram, apesar dos avanços nos aspectos gerais. “É legal, funciona, mas não é o excelente”, encerra.
BUROCRACIA
As questões burocráticas podem ser consideradas um empecilho à resolução dos problemas estruturais. Por outro lado, são apontadas a falta de profissionais para a realização dos serviços, assim como a falta de consciência por parte dos alunos.
Para Alan Jeferson, o problema estrutural da Universidade é a falta de gestão. “Recurso tem, o governo federal disponibiliza, mas é mal administrado. Tudo é muito burocratizado. Quando chove, os bueiros dentro do campus ficam todos cheios, mas a água é de esgoto, e não da chuva, que só agrava. Existe gente para limpar, mas novamente a questão burocrática impede”.
O Professor Ronaldo Salgado aponta a mesma burocracia como responsável pelos problemas estruturais, ou pelo menos infraestruturais, do curso de Comunicação Social. “Na hora de fazer licitação para compra de equipamentos, é sempre um processo demorado, imperioso. Há todo um problema de organização não só na universidade como instituição, mas também no ente federativo, no Estado, na estrutura governamental. E esses problemas se replicam”, finaliza.
Procurado pelo Câmbio, Marcelo Cavalcante, Técnico de Laboratório de Informática, confirma a burocratização como um problema não só da UFC, mas também das empresas contratadas pela Universidade para realizar a implantação de uma rede de Wi-fi que abranja todo o campus do Benfica. “Não é só uma burocracia da UFC, é uma burocracia no geral, porque tudo depende de licitação, então isso acaba atrapalhando.” Segundo ele, não adianta apenas ter verba para a realização das melhorias se as instalações de Internet no campus dependem de um processo burocrático. Marcelo conta, inclusive, que no ano passado houve a tentativa de implantação de “Rádios Wi-fi” em alguns blocos, mas, segundo ele, deu “zebra” nas licitações. Entretanto, apesar das dificuldades devido à burocratização, o entrevistado informa que “nesse ano, as reclamações já foram comunicadas à STI (Secretaria de Tecnologia da Informação) e eles já estão trabalhando para trazer a mesma tecnologia Wi-fi que tem no Pici para os três campus do Centro de Humanidades”. Não soube informar sobre o prazo.
Sobre os problemas estruturais, Valdênio Vieira, engenheiro civil da Prefeitura da UFC, afirma que a grande questão não é somente a burocracia, mas também a elevada demanda de serviços para uma pequena equipe de funcionários. Além disso, Valdênio informou que a manutenção de projetores e computadores necessita de um contrato anual com uma empresa autorizada que está vencido e que a renovação desse serviço depende da pró-Reitoria de administração, não cabendo à Prefeitura responder sobre prazos de retorno.
Enfatizando que a Prefeitura busca sempre atender às reclamações feitas, Valdênio aponta para a necessidade de uma maior participação da comunidade para ajudar o campus a manter sua estrutura organizada, a exemplo dos problemas hidráulicos que têm como uma das principais causas o descarte incorreto de materiais nos vasos sanitários. “Não cabe só à prefeitura gritar aqui ‘a gente deve fazer isso ou aquilo’. A gente faz, mas a parte pessoal, de departamento, de conscientização de aluno, cabe à administração superior da Universidade”, esclarece.
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