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D.A.T.A


Foto: Iury Figueiredo

Representatividade é um dos conceitos chave do sistema democrático. A palavra diz respeito à ocupar um espaço, à existir politicamente. O Diretório Acadêmico Tristão de Athayde (DATA), espaço representativo dos estudantes de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da UFC, foi fundado em 1966, quase um ano depois da abertura do curso de Comunicação Social. Com um passado marcado por lutas, o Diretório se tornou uma instituição importante sob a ótica da história, da cultura e, principalmente, da formação política, pois seus debates proporcionam a construção de uma consciência mais crítica dos estudantes.

Durante a ditadura militar, o DA foi fechado em 1968 com o decretamento do A.I. 5 e reaberto somente em 1978. Entretanto, os membros do diretório permaneceram se reunindo secretamente afim de manter vivo aquele espaço, fruto da luta estudantil. Sobre esse período, o jornalista e professor Ronaldo Salgado, que foi aluno e membro do diretório em época ditatorial, comenta: “Institucionalmente não havia DATA. Não tinha condição de funcionar. Mas de forma de luta e resistência as pessoas se mantinham.”

Também sobre esse momento, o presidente da primeira gestão do DATA após sua reabertura no final da década de setenta, Nilton de Almeida, diz que a reabertura do, na época, centro acadêmico representou um passo importante no processo de organização dos estudantes de Comunicação. “Embora a ditadura civil-militar já não tivesse tanta força, a mentalidade autoritária ainda era uma realidade.” Sobre as conquistas que o DA trouxe ao curso de Comunicação, o jornalista ressalta o empoderamento dos estudantes perante a universidade e a sociedade como um todo, que passou a ver naquele pequeno grupo uma representação forte da classe estudantil.

Contudo, a ausência de uma gestão atuante nos últimos anos fez do DATA um lugar distante do papel de luta e aprendizado. Para tentar explicar o porquê de uma instituição tão fundamental para o corpo discente estar enfraquecida, Leonardo de Carvalho, aluno de Publicidade e Propaganda e membro da última gestão do DA, enumera duas razões. Primeiro, a instabilidade gerada pela natural rotatividade de pessoas e, consequentemente, de gestões. Segundo, a ausência de um “trabalho de base” das gestões anteriores, para mostrar o Diretório como um espaço feito por e para os estudantes.

O momento de desmobilização do DATA preocupa os ex-estudantes, Nilton e Ronaldo. “Não há mais por que lutar, dentro do curso, na universidade e na sociedade? Por que tanta apatia e falta de espírito coletivo? É muito estranho, e ao mesmo tempo lamentável.”, afirma Nilton. Já o professor Ronaldo destaca a necessidade de um recomeço na militância estudantil. “É preciso que se retome a força, a energia, se não revolucionária, porque estamos falando de contextos diferenciados, a energia renovadora do espírito lutador.”

Percebe-se que neste período de transformações para os cursos de Comunicação Social, marcado pela transferência para o Instituto de Cultura e Arte – ICA e pelas reformas curriculares, o Diretório tem importância fundamental para que os estudantes fomentem novas formas de luta e participem dos debates sobre as mudanças que os cursos estão sofrendo, pois elas recaem principalmente sobre a classe estudantil.

O ano das comemorações dos 50 anos do curso de Jornalismo parece ter trazido uma centelha desse espírito de volta. O início de uma mobilização é aparente à quem leva os olhos ou visita os espaços históricos da Torrinha. Novidade que anima Leonardo. Segundo ele, mesmo sem gestão oficial, o DATA está sendo ocupado em auto-gestão pelos alunos e já existe movimentação para que uma nova gestão comece. “Os calouros estão bem próximos desse processo – o que é muito positivo”, conclui. Diante disso,só resta desejar boas novas ao Diretório Acadêmico Tristão de Athayde.

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