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[Crônica] Jornalista, sim!

  • Letícia Alves
  • 29 de abr. de 2015
  • 2 min de leitura

Não lembro bem quando decidi ser jornalista. Não trago aquela história previsível - que sempre me cheira à invencionice sem criatividade - de que, quando criança, usava a mesinha de centro da sala como bancada de telejornal e uma embalagem qualquer como microfone. Aliás, tenho horror a microfones.

Também não lia jornais e revistas às pencas na minha infância, não importando se eram do dia ou de semanas passadas. Onde eu morava, não chegavam jornais e revistas, e, além do mais, meus pais não eram aqueles leitores intelectuais que me colocavam para dormir lendo Machado de Assis.

Fui criada pelos meus avós, e eles não chegaram a terminar nem mesmo o Ensino Médio. São maus leitores, que até brigavam com os filhos quando “perdiam” tempo demais em um livro. Não fui incentivada a ler, muito menos a escrever. Mas carregava comigo um diário, onde colava adesivos e escrevia aquelas besteiras piegas de menina pueril.

Não me enquadro naquele estereótipo formado - e forjado - de que o jornalista era o menino prodígio, que se dava bem em português, odiava matemática e editava o jornalzinho da escola. Talvez me encaixe naquele que gasta demais em livros - muitos que nem sequer vou terminar o primeiro capítulo -, é viciado - mas não assume - em café e usa travessões demais no texto porque acha que isso cria um estilo próprio que vai torná-lo único entre tantos e tantos.

O.K., eu aprendi a ler cedo, bem cedo - e tenho orgulho disso. Lia de tudo quando criança, tirava notas boas nas redações do colégio e passei no vestibular, inclusive, porque as duas horas que gastei no texto valeram bastante a pena. Numa das primeiras matérias que tive que escrever para o jornal, porém, empaquei. Passei horas escrevendo e apagando, até ter que, como um cachorrinho com as orelhas baixas, assumir para a minha editora o completo fracasso de quem não desenrolou nem o lide.

Não lembro bem quando optei por jornalismo, em vez de letras, olhando para as notas de corte no site do Sisu. E não, não foi aquela criança extrovertida que gostava de contar piadas que me transformou numa espécie de gente grande que quer contar histórias, mesmo quando elas não são tão engraçadas.

Jornalismo não cabe em caixinhas manjadas e ridículas de tagarelice, exibicionismo, fofoca e intelectualidade. Quem não gosta de aparecer pode ser jornalista, sim - porque é o fato que precisa ser mostrado. Quem fala pouco pode ser jornalista, sim - porque não é a voz do repórter que precisa ser ouvida. Quem é tímido pode ser jornalista, sim - porque o importante é fazer bem o seu trabalho.

É jornalista quem quer ser, porque a vida - assim como o jornalismo - é feita de escolhas e dedicação. Mas, sobretudo, é jornalista quem pôde, um dia, tomar essa decisão tão sem pé nem cabeça que faz muitos acharem que é necessário buscar respostas mais loucas ainda, num passado remoto feito de ilusões, nostalgia e falta de memória. É jornalista quem pode, todos os dias, confirmar essa decisão - mesmo quando o cotidiano prova que não dá mesmo para querer explicar o porquê.

Ser jornalista é. E sou, sim, jornalista. Porque quis, porque quero. Sem por quê. E até quando o quiser, serei.


 
 
 

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