Entrevista com a recém-contratada professora Helena Martins.
Qual o perfil de estudante de comunicação que o mercado vai exigir?
O mercado vai exigir um perfil e a Universidade não necessariamente precisa responder esse perfil. A ideia da convergência desenhará a lógica do mercado, então será necessário um profissional que tenha um grande dinamismo. O trabalhador que fizer uma cobertura de algum evento terá que gravar um vídeo com uma matéria feita no caminho porque o tempo das tecnologias atuais é muito acelerado. Um estudante mais atento à contemporaneidade, que tenha mais contato com culturas diversas, talvez com línguas diversas vá se sobressair.
A perspectiva que me preocupa é da naturalização da convergência, quando cai sobre o trabalhador. Uma empresa pode empacotar o trabalho que você faz de diversas formas como uma gravação para rádio, matéria impressa, etc. Isso não quer dizer que você tenha que realizar todas as produções. A empresa terá que trabalhar com isso de outra forma. Então, o que me preocupa é a dificuldade de nós termos consciência de que somos trabalhadores e temos nossos direitos. Situação essa que já foi abordada pela professora Roseli Figaro, uma pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) no livro “As mudanças no mundo do trabalho de jornalista”.
O jornalismo está muito ligado ao advento das novas tecnologias. Você acredita que disciplinas deveriam ser criadas para guiar o estudante no manuseio dessas novas ferramentas?
Não sei se disciplina ou se esse conhecimento deveria ser transversalizado. Por exemplo, eu leciono uma disciplina de introdução à comunicação que discute muito sobre tecnologia, porque é o que estamos vivenciando. Mesmo as disciplinas de teorias que reportam a outras épocas falam da internet porque você tem que pensar a partir do que você vive no presente para que se faça sentido para os alunos e mesmo para testar se essas teorias se mantém atuais. Não sei dizer se uma cadeira precisaria ser criada, mas fato que elas se moldam ao momento de mudanças que vivemos constantemente. Outro assunto que pode ser discutido é a metodologia. Hoje em dia as pessoas estão com celulares dentro da sala de aula, o tempo todo conectadas, textos mais longos são menos lidos, então isso nos desafia, e eu me coloco como aprendiz porque esses desafios são de todos nós.
O que é importante frisar é que não podemos perder as disciplinas teóricas nesse processo, porque a própria mudança curricular do jornalismo ele tem caminhado para evidenciar mais as disciplinas técnicas do que as teóricas, mas o que vemos é que a técnica está em constante mudança. Se a gente for pensar em adaptar o curso para uma demanda tecnológica atual, ela pode ficar rapidamente obsoleta. Se você tem uma base teórica consolidada, forte e critica para entender essas mudanças, acho que você consegue ficar mais perene, atravessar as mudanças com uma consciência maior. Penso também em disciplinas como Comunicação Pública. Hoje em dia temos uma empresa nacional de comunicação e constituição de comunicação pública, acho importante voltarmos a discutir comunicação pública e políticas de comunicação.
Jornalismo especializado é uma tendência?
Com certeza. Quando o Facebook coleta nossos dados e produz um perfil bem específico do consumidor e direciona um certo tipo de publicidade para cada perfil, é um exemplo que hoje nos conseguimos ter um público cada vez mais diagnosticado. No caso do jornalismo isso pode ser muito interessante, pois você consegue ter uma dimensão do que o público deseja saber. Isso cria espaços para veículos cada vez mais especializados. Um exemplo é a cobertura jornalística ambiental. O meio ambiente surgia como tema quando acontecia alguma catástrofe ou incorporado com ciência e tecnologia. Hoje em dia tem vários portais especializados no assunto.